Os moinhos
Moinho d'água medieval, iluminura do Livro de Salmos Luttrell, 1320-1340.
Por: Denise de Moraes Melo
O moinho d’água era conhecido na Ilíria desde o século II a.C., na Ásia Menor desde o século I a.C. e existiu no mundo romano onde foi construído pela primeira vez. Os romanos substituíram as antigas rodas horizontais pelas rodas verticais com uma engrenagem que religava o eixo horizontal da roda ao eixo vertical. Porém praticamente não as utilizavam, em parte porque possuíam escravos em número suficiente para não se preocuparem com máquinas poupadoras de mão-de-obra e em parte porque na maioria dos territórios romanos não abundavam correntes rápidas .
No século IX o moinho hidráulico já estava difundido no Ocidente, mas seu pleno desenvolvimento encontra-se entre os séculos XI e XIV, onde alguns registros mostram o dobro de construções existentes nos períodos anteriores. Os moinhos d’água eram utilizados para fins artesanais e industriais, mas tinham como principal tarefa a moagem de grãos.
Depois de dominarem completamente a complexa tecnologia da construção dos moinhos d’água, os europeus voltaram a atenção para o aproveitamento da energia eólica. Por volta de 1170 surgiram os primeiros moinhos de vento, com o corpo central rotativo para acompanhar a direção do vento. A partir de então, em terras planas como as da Holanda, onde não havia correntes rápidas, os moinhos de vento se proliferaram. No início do século XII eram feitos de madeira, e ao final do século passaram a ser feitos de ferro e sem o corpo rotativo.
O último moinho de vento em Portugal com velas de madeira, localizado em Carreço, Viana do Castelo
Embora os moinhos de vento fossem, sobretudo utilizados para a moagem de grãos, logo foram adaptados para movimentar serras, fabricar tecidos, espremer óleo, fazer cerveja, proporcionar força a forjas e esmagar a polpa para produzir papel.
A origem do moinho de vento ainda não é clara, mas parece ter sido uma influência oriental, já que eram conhecidos na China e na Pérsia no século VII, e mencionados na Espanha no século X. Entretanto, a localização dos primeiros moinhos de vento, atualmente notados numa zona limitada em torno do Canal da Mancha (Normandia, Ponthieu, Inglaterra), e as diferenças de tipos, entre o moinho oriental, o ocidental e o mediterrânico, não tornam improvável a aparição independente do moinho de vento nestas três regiões. Durante a Alta Idade Média toda construção de um moinho era atribuída ao nome de um santo que o introduziu naquela região, tudo devido a forte influência religiosa da época.
Durante o período feudal os moinhos pertenciam aos senhores, e só podiam ser utilizados por servos ou camponeses mediante o pagamento de uma taxa abusiva. Além disso, os moinhos eram tidos como lugares de encontros e de prostituição, conhecidos como “taverna banal”. Os leprosos eram proibidos de freqüentar os moinhos, devido ao medo de contagio tido pelo resto da população.
Segundo Jacques Le Goff a “revolução” do moinho atingiu tanto o campo quanto a cidade. Na sociedade medieval tiveram de ocorrer mudanças nas condições históricas e culturais para que se permitisse compreender plenamente a utilidade e a ampla vantagem do moinho.
Bibliografia:
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LE GOFF, Jacques. A vida material (séculos 10º-13º). In: A Civilização do Ocidente Medieval. Bauru, São Paulo: Edusc, 2005, p. 191-256.
LE GOFF, Jacques. SCHMITT, Jean-Claude. A Cidade. In: Dicionário Temático do Ocidente Medieval. São Paulo: Edusc, 2002, vol. I.
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